França pode barrar acordo entre UE e Mercosul se Brasil deixar pacto do clima

Durante entrevista coletiva, Macron disse que bloco não pode assinar acordo comercial com país que não respeita tratado sobre meio ambiente

Jornal GGN – “Se o Brasil deixar o acordo de Paris, até onde nos diz respeito, não poderemos assinar o acordo comercial com eles”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron a jornalistas no Japão, antes da reunião do G20, nesta quinta-feira (27)

“Por uma simples razão. Estamos pedindo que nossos produtores parem de usar pesticidas, estamos pedindo que nossas companhias produzam menos carbono, e isso tem um custo de competitividade”, explicou.

“Então não vamos dizer, de um dia para o outro, que deixaremos entrar bens de países que não respeitam nada disso”, acrescentou o presidente francês, segundo informações da Reuters.

Entidades pediram à UE para não fechar acordo com Mercosul

Há 20 anos o Mercosul está em negociação com o bloco europeu em um processo que está, finalmente, perto do seu entendimento final segundo apontamentos tanto de Bolsonaro, que este mês afirmou que um acordo poderia ser assinado “logo”, quanto do grupo europeu que chamou a negociação de “prioridade número um”.

Há algumas semanas, porém, mais de 340 organizações não governamentais (ONGs) enviaram uma carta conjunta pedindo para a União Europeia não fechar acordo comercial com o Mercosul. As entidades criticam a política do presidente brasileiro de promover a violência e a exploração predatória do meio ambiente.

“É imperativo que a UE envie uma mensagem inequívoca ao presidente Bolsonaro de que a UE se recusará a negociar um acordo comercial com o Brasil até que haja um fim às violações dos direitos humanos, medidas rigorosas para acabar com o desmatamento e compromissos concretos para implementar o Acordo de Paris”, escreveram as ONGs.

A Comissão Européia já sinalizou que uma das condições para o Brasil fechar um acordo com o bloco é se manter no Acordo de Paris, tratado ligado à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC) para reger medidas de redução a poluição de gases de efeito estufa a partir de 2020. O acordo foi lançado em dezembro de 2015, com a assinatura de 12 países durante as conferências da COP21, em Paris, e hoje tem a adesão de mais de 190 nações.

O Brasil se tornou signatário do Acordo em agosto de 2016, no governo Michel Temer. Ainda durante a corrida eleitoral, Bolsonaro prometeu retirar o Brasil do tratado. Depois de eleito, desistiu de quebrar o pacto, percebendo os riscos para os acordos comerciais do país. Ao mesmo tempo, Bolsonaro desistiu de realizar os eventos da COP25, que estavam previstos para acontecer no Rio em 2020, alegando falta de verbas.

A matéria da Reuters lembra, também, que os países da UE têm manifestado irritação com o aumento da importação de carne e a hesitação do Mercosul em abrir alguns setores industriais, como o automotivo. Esses seriam dois fatores que fizeram os prazos anteriores para um acordo serem descumpridos.

General Heleno ataca europeus

Ainda, segundo informações da Reuters, o general Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI, que acompanha o presidente Bolsonaro na reunião do G20, em Tóquio, não quis comentar a fala de Macron.

Ele acusou as ONGs de estarem por trás de uma estratégia dos países europeus para impedir o desenvolvimento do Brasil.

“A gente não dá palpite em ninguém, por que que a gente não dá palpite no meio ambiente da Alemanha? Quais são as florestas que o europeu preservou? veja o que tinha de floresta no início do século e o que tem hoje. Veja o que o Brasil tinha de floresta e tem hoje”, atacou.

“Eu não tenho nenhuma dúvida, eu nunca tive nenhuma dúvida. Estratégia de preservar o meio ambiente do Brasil para mais tarde eles explorarem. Está cheio de ONG por trás deles, ONG sabidamente a serviço de governos estrangeiros. Vocês têm que ler mais um pouco sobre isso, viu? Vocês estão muito mal informados”, completou o ministro.

Quando questionado se o Brasil permanecerá no Acordo de Paris respondeu: “Pode ou não, se for perguntado. Não está na pauta do G20 isso”.

Em junho de 2017, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada do seu país do Acordo de Paris. Por conta dessa decisão, no início deste ano a França votou contra a abertura de negociações comerciais entre a UE e os EUA. Como a decisão francesa não foi acatada por todos os países membros do bloco, não houve bloqueio de negociações comerciais com os norte-americanos.

Também nesta quinta-feira (27), durante a mesma reunião em que Macron expôs a sua preocupação com o Brasil, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, ressaltou que seu país vê com grande preocupação a posição de Bolsonaro em relação ao desmatamento no Brasil.

“Assim como vocês, vejo com grande preocupação a questão das ações do presidente brasileiro [em relação ao desmatamento] e, se ela se apresentar, aproveitarei a oportunidade no G20 para ter uma discussão clara com ele”.

Para ler a reportagem da Reuters na íntegra, clique aqui.

Leia também: Energia: Alemanha e Brasil têm muito a ensinar a Bolsonaro, por Luis Nassif

Redação

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