Mídia insiste em reportar a irritação militar; mas deveria?

Em contraponto ao servilismo dos jornalistas aos militares, GGN discute papel das Forças Armadas em tempos de paz.

Desfile militar. Crédito: Paulo Pinto/ Agência Brasil

Na Folha de S. Paulo desta quinta-feira (7), o colunista Conrado Hubner Mendes criticou o que chama de “servilismo ao poder político e econômico” dos jornalistas, que se dedicam com gosto e engenho ao reporte da irritometria militar. 

Desde o início do governo Lula, foram diversos momentos em que a irritação dos generais virou pauta. 

“Para que as Forças Armadas se irritem, basta qualquer enunciação pública dos crimes que cometeram no passado e no presente. Basta qualquer demonstração de sua associação a uma família de delinquência política serial que assumiu a Presidência e desenhou plano de golpe junto com eles. Basta o aparente risco de sanção, pois sanção, de fato, nunca sofreram. No máximo, a sanção premial: ameaçam o governo e ganham benefícios orçamentários, remuneratórios e previdenciários (também para as filhas)”, observa Mendes.

Porém, apesar do orgulho pelo privilégio em contar com uma fonte tão especial, o servilismo dos jornalistas brasileiros aos militares nada mais é do que uma fofoca plantada pelas próprias autoridades, segundo o colunista, mas que concede contrapartidas, como “promessa de influência, prestígio de exclusividade, entrada em festas, lista de contatos, cliques”. 

Há casos, ainda, em que o servilismo seria uma condição para que os jornalistas mantenham seus empregos, devido às exigências do veículo ou do editor. 

“Quando Lula afirmou não querer “remoer o passado”, por que os irritometristas não foram lá perguntar o que sentiam os familiares de vítimas da brutalidade militar? Seu irritômetro só quer saber de vestir farda?”, finaliza o colunista.

Papel dos militares

Em contrapartida ao servilismo aos militares praticado pela grande mídia, o GGN discute qual é o papel dos militares na atual sociedade brasileira.

“Precisa de uma doutrina militar defensiva do Brasil, ter capacidade de se defender como grande ativo nacional. É esse o papel deles. O papel deles não é se meter em políticas”, afirmou o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão ao TVGGN 20H.

Na análise do professor da Universidade de Brasília (UnB) Mamede Said, que participou do programa TVGGN Justiça, a presença dos militares na política foi muito nociva, porém sob a gestão de Lula “estamos colocando as coisas nos seus devidos lugares”. 

“O sinal disso é que em 31 de março do ano passado não houve ordem do dia alusiva ao golpe de 1964 que derrubou João Goulart. Isso é um sinal de que as Forças Armadas podem voltar a um caminho de profissionalização e parar de se imiscuir na cena político-institucional como vimos nos quatro anos do governo passado.”, comentou Said.

Porém, a sociedade brasileira ainda não fez um acerto de contas com o nosso passado autoritário. “Na transição do regime ditatorial para a democracia, nós não tivemos as medidas que os países vizinhos adotaram. Os militares sempre foram muito refratários em reconhecer os desmandos praticados, se insurgiram contra os relatórios da Comissão da Verdade, o SNI [Sistema Nacional de Informações] continuou funcionando até meados do governo Collor”, continua o professor da UnB.

Leia a coluna de Conrado Mendes na íntegra.

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Camila Bezerra

Jornalista

2 Comentários

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  1. Tem muito jornalista na grande mídia que aceita alegremente servir de mula (ou sela) de mimimilico, ou no mínimo de ser engambelado por Napoleões de asilo. Basta de fofoca!

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