Revolução ou revolta? Análise dos golpes militares nacionalistas na África pós-2021
por Saulo Barbosa Santiago
De 2021 a 2023 sete países do continente africano, quais sejam: Mali, Guiné, Sudão, Burkina Faso, Níger e Gabão, respectivamente, romperam, a partir de golpes militares nacionalistas, os grilhões ocidentais colonialistas que há séculos estão enraizados na África. Para estas nações, seus países possuem riquezas que são exploradas pelos europeus enquanto a população vive na fome, miséria e desigualdade social. O que gera dúvidas é se tais lutas são revolucionárias ou apenas revoltas locais, portanto, o objetivo deste texto será de definir se tais eventos são revoltas ou revoluções para, desta forma, compreender melhor os conflitos sociais, econômicos e políticos desta região do mundo.
Os termos “revolta” e “revolução” são frequentemente usados para descrever eventos de agitação política, mas eles têm significados diferentes e implicam níveis diferentes de mudança e escala. Quando falamos em revoltas, trata-se de fatos locais, pouco duradouros, normalmente restritos para dentro de um país, onde envolve população ou grupo de pessoas, motivadas por questões específicas e sem a intenção de mudanças estruturais. Se há atropelamentos na rua onde você mora e nada é feito pelos governantes, os moradores podem fazer um ato de revolta para que algo seja feito. Também podemos pensar em “revolta” num sentido menos estrito, por exemplo, no Brasil, tivemos revoltas importantes como a Cabanagem (1835 – 1840) que ocorreu no Grão-Pará, a Sabinada (1837 – 1838), liderada por um grupo de médicos, e a Balaiada (1838 – 1841), que foi uma coalizão de diversos grupos sociais minoritários contra as elites locais.
A Revolução é bem mais ampla e complexa, não se limita à região e sua população, pelo contrário, o gatilho que produz a fagulha da revolução é a luta de classes, abrange do nacional para o internacional com o objetivo de mudar a ordem social, econômica e política a longo prazo. Nessas características podemos citar a revolução francesa (1789 – 1799), que derrubou a monarquia e finalizou o Antigo Regime. Em proporções semelhantes houve a revolução russa (1917 – 1928), que derrubou uma monarquia absolutista e transformou a Rússia na primeira nação socialista.
Tanto as revoltas como as revoluções, em regra, são atos violentos, não por escolhas, mas por que as classes detentoras do poder cujo almeja derrubar não entregarão seus benefícios e privilégios facilmente, usarão todos os recursos necessários que o Estado lhe fornece para se defender. Foi o que aconteceu na revolução italiana Bieno Rosso (1919 – 1920) quando trabalhadores fizeram greves e ocuparam fábricas, como não houve acordo entre os proletários e capitalistas, os capitalistas angariaram forças policiais do Estado para reprimir, retomar as fábricas e assassinar sindicalistas e grevistas.
Podemos concluir que, os países africanos que eclodiram golpes militares de caráter nacionalista e com o apoio da população, se encaixa melhor ao conceito de revolução, pois, não só agem sob o uso da violência para a derrubada do antigo regime que era consonante a países historicamente colonizadores, como também pretendem construir uma nova sociedade, mais justa e igual, liberta das elites dominantes que consomem toda sua riqueza e espelha a miséria.
Saulo Barbosa Santiago – Filósofo, guarda civil e autista
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