Tania Maria de Oliveira
Tânia M. S. Oliveira é advogada, historiadora, pesquisadora e membra da ABJD. Secretaria-executiva adjunta da Secretaria Geral da Presidência da República.
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30 de outubro de 2022: um ano da eleição de Lula, por Tânia Maria de Oliveira

Há um ano o brasileiro gritou "não" a tudo que Bolsonaro representa. É preciso garantir que a ameaça não retorne

Ricardo Stuckert

30 de outubro de 2022: um ano da eleição de Lula

por Tânia Maria de Oliveira*

Há exato um ano o Brasil elegeu Luiz Inácio Lula da Silva Presidente do Brasil pela terceira vez e o país voltou a respirar democracia.

A disputa eleitoral mais acirrada e de resultado mais apertado da História pós redemocratização do país simbolizou o fim de quatro anos em que a figura de Jair Bolsonaro esteve à frente da Nação e impôs uma forma do fazer político desdenhando dos valores democráticos, das instituições, da saúde pública.

Tornou o comando do país algo caricato, sem responsabilidade e voltado a interesses privados e espúrios; atacou chefes dos demais poderes e tratou adversários políticos como inimigos; promoveu passeios de jet-ski e motociatas enquanto as famílias brasileiras enterravam seus mais de 700 mil mortos na pandemia de Covid-19; promoveu a destruição da cultura, da ciência, da preservação ambiental, da transparência e dos direitos.

As eleições de 2022 ocorreram sob tensão, com as afirmativas constantes de Bolsonaro que não respeitaria o resultado caso não fosse eleito, promovendo ato com representantes diplomáticos de todos os países para questionar a lisura do processo eleitoral e a confiança nas urnas eletrônicas, sistema pelo qual, a propósito, fora eleito.

O uso da máquina pública de forma ilegal para se reeleger foi de descaramento sem parâmetros, como a liberação do empréstimo consignado para beneficiários do auxílio Brasil concentrando-se no mês das eleições, o bloqueio nas estradas feito pela Polícia Rodoviária Federal nos locais de maior número de eleitores de Lula, e a operação de empresários ameaçando trabalhadores de desemprego caso Bolsonaro fosse derrotado.

A síntese da campanha da reeleição estava na tríade “Deus, pátria, família”, e se disseminava com a acusação de que a esquerda não é cristã, não é patriota e que deseja o fim da família. O discurso de ódio estimulado e manipulado o tempo todo em recursos avançados de tecnologia da informação tinha efeito devastador.

Nesse cenário, a derrota do populista autoritário não ocorreria sem tentativa de golpe, como ficou evidenciado em seguida à divulgação do resultado, com os acampamentos de seus seguidores em frente aos quarteis, bloqueios das rodovias por caminhoneiros, depredação e queima de ônibus no dia da diplomação e os atos de destruição das instalações dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023, já no início do mandato do presidente Lula.

O país que herdamos da gestão de Jair Bolsonaro não permite que tenhamos um jardim de flores em pouco tempo. Foi e segue sendo necessário, ao lado da retomada do crescimento e recuperação da economia com inclusão, erradicar o clima de ódio que foi estimulado, retirar de circulação a quantidade absurda de armas que foram distribuídas, combater os falsos discursos de defesa da família que exclui as diferenças, expor a corrupção praticada.

O que Bolsonaro fez desde seu primeiro dia de governo foi agitação ideológica, com o objetivo de radicalizar os apoiadores, enquanto as ações de governo eram solapadas por lobbies privados. Promoveu privilégios, sonegação, preconceitos, sigilos, violência e ignorância.

Não existe uma só marca construtiva do governo Bolsonaro como legado ao Brasil. Ao oposto, deixou um passivo de 400 bilhões, desmonte de diversas políticas, recordes de devastação das áreas de preservação e das florestas. 

Há um ano recebemos a gigantesca tarefa de recolocar o país no caminho para o qual fora sempre destinado: da democracia, do desenvolvimento, da inclusão socioeconômica, de um meio ambiente sustentável.

Para isso é preciso não perder de vista tudo aquilo que tornou Bolsonaro possível, como lição para que não se repita. Criar antídotos contra as fakes news com habilidade e tolerância.

Há um ano o povo brasileiro gritou NÃO a tudo que Bolsonaro representa. É preciso fazer valer esse desejo garantindo que a ameaça não retorne. Lembrando que ele foi tornado inelegível, mas possui uma quantidade bem grande de seguidores fiéis e toda a família envolvida na política. E que a bancada de extrema-direita eleita ao parlamento em 2022 foi muito expressiva. Muito mesmo.

O bolsonarismo – maior que Bolsonaro e que não se encerrou com a queda dele  – na corrosão da democracia é tanto sintoma quanto causa. Por isso mesmo é tarefa tanto do governo Lula como de todos que reconhecem o risco que não podemos mais correr, da sociedade organizada e movimentos sociais, fazer o enfrentamento por meio de políticas públicas e embates públicos, em todos os espaços e territórios, criando os anticorpos para tornar o país imune a novos aventureiros e ditadores.

*Tânia Maria de Oliveira é advogada, historiadora, pesquisadora e membra da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD. Secretaria-executiva adjunta da Secretaria Geral da Presidência da República.

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