Por Estefano Nascimento, via Facebook*
Mais uma vez, o Uruguai é a vanguarda. O primeiro país sul-americano a legalizar o aborto, agora o também é o primeiro país que regulamenta a venda de maconha. Seja por influencia religiosa, falta de senso critico ou apenas por um conservadorismo latente, ainda predominam muitos mitos e equívocos quando o assunto é a maconha.
O primeiro erro é acreditar que a maconha é a “porta de entrada para drogas mais pesadas”. Se existe de fato uma “porta de entrada” para as drogas certamente não é a maconha, e sim o álcool, já que na maior parte das vezes o consumo de bebidas alcoólicas é feito anteriormente a qualquer uso de outras drogas. Ora se álcool é a verdadeira porta de entrada para outras drogas, então porque não é proibido?
O segundo erro é achar que a maconha é mais nocivo que outras drogas como álcool e tabaco. Nunca vi alguma notícia de que algum homem espancou na mulher porque tinha usado maconha. Nunca vi alguém atropelar seis em um ponto de ônibus porque fumou maconha e dirigiu. Nunca vi alguém morrer de câncer no pulmão porque fumou maconha. Se a maconha, tanto do ponto de vista social quanto do ponto de vista da saúde, é menos nociva que o álcool e que o tabaco, então porque ela que é proibida?
O terceiro erro é acreditar que a legalização das drogas irá aumentar o consumo. Isso não irá acontecer simplesmente porque é tão fácil achar pontos de venda que quem quiser consumir maconha já está consumindo. Muito pelo contrário, só com a legalização haverá a possibilidade de um maior controle sobre a produção e a venda de maconha.
Sabe o que impede um adolescente de 14 anos de comprar álcool? O fato de ser legalizado. Se um adolescente chegar em um supermercado com a intenção de comprar alguma bebida alcoólica, dificilmente ele vai conseguir, já que existem leis que restringem o compra de álcool por adolescentes. E caso ocorra a venda, certamente o proprietário é passível de punição por isso.
Agora sabe o que impede um adolescente de comprar drogas? Nada.
O traficante está pouco se importando se quem está comprando drogas é maior ou menor de idade, se o dinheiro é licito ou não. O que o traficante quer é vender, seja para que for.
Hoje a política de proibição do uso de drogas só beneficia o traficante e a indústria de armas que lucra vendendo para os dois lados. Para todo o resto da sociedade, sobretudo para os mais pobres, que são obrigados a morar em zonas dominadas pelo tráfico e a conviver entre o fogo cruzado de polícias e traficantes, a política de proibição não é apenas ineficiente, mas cruel e nefasta e assassina.
*Estefano Nascimento é aluno do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH-USP
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.