Caso José Raimundo Aras chega ao júri 27 anos após o crime

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

Mandante do assassinato de auditor fiscal será julgado no próximo dia 09; crime ocorreu na cidade de Petrolina em outubro de 1996

Photo by Tingey Injury Law Firm on Unsplash

O terceiro envolvido do assassinato do auditor fiscal José Raimundo Aras chega ao banco dos réus 27 anos após o crime, no próximo dia 09 de agosto.

Sociólogo e auditor fiscal, Aras foi assassinado com seis tiros à queima roupa em sua casa na cidade de Petrolina em outubro de 1996 pelo pistoleiro Carlos Robério Vieira Pereira, já condenado a 18 anos de prisão.

O Ministério Público pernambucano identificou como mandantes Francisco de Assis Lima “Barateiro” (condenado a 17 anos), Carlos Alberto da Silva Campos (absolvido) e Alcides Alves Bezerra, o último a ser julgado.

A audiência será realizada no Plenário do Tribunal do Júri do Fórum Dr. Manoel Souza Filho, no centro da cidade de Petrolina.

Os mandantes

Francisco de Assis Lima “Barateiro”, Carlos Alberto da Silva Campos e Alcides Alves Bezerra integravam um esquema que ficou conhecido como “Máfia do Açúcar”, onde empresários do setor atacadista compravam açúcar com notas frias.

A quadrilha atuava na divisa da Bahia com Pernambuco e sonegava ICMS na venda do produto na região. José Raimundo Aras, então auditor fiscal da Secretaria da Fazenda da Bahia, atuou para desbaratar o esquema, como lembra o Sindsefaz (Sindicato dos Servidores da Fazenda do Estado da Bahia), que estará presente no julgamento por meio dos diretores Cláudio Meirelles e Joaquim Amaral.

O primeiro julgamento

Vladimir Aras é Procurador Regional da República, Professor de Processo Penal e pesquisador da área de lavagem de dinheiro, criminalidade organizada, proteção de dados e cooperação penal internacional.

Mas antes de tudo, Vladimir Aras é filho de José Raimundo – e esteve presente no primeiro julgamento, onde o pistoleiro Carlos Robério Vieira Pereira foi condenado por homicídio duplamente qualificado.

“Em 1996, já membro do Ministério Público, nada pude fazer para impedir essa violência contra meu pai, morto em consequência de sua atividade como auditor fiscal, na região de Juazeiro”, lembra Vladimir.

“Ele descobrira um esquema de sonegação de ICMS, envolvendo grandes atacadistas dali, que formavam a “Máfia do Açúcar”. Perdeu sua vida por isto. Mas não perdeu seu nome, nem sua honra. Era um servidor público”, ressalta, em longo texto publicado em seu blog.

Vladimir lembra que um dos mandantes, Carlos Alberto da Silva Campos, não compareceu ao júri por “motivo de saúde”. Contudo, ele teve sua prisão cautelar decretada. “Se o réu é um devoto da prescrição, do lado de cá temos fé num julgamento justo, que dê a César aquilo que é seu. Foi então que um juiz probo e correto, um Cícero, decretou a prisão cautelar do réu “ausente””.

A biografia e o histórico redigidos pelo filho, Vladimir Aras

Nasceu em 11 de abril de 1942 em Queimadas/BA, no sertão de Canudos. No entanto foi em Feira de Santana que viveu grande parte de sua vida. Sociólogo pela Universidade Federal da Bahia, fundou a Associação dos Sociólogos do Estado da Bahia (ASEB). Filho do escritor e poeta José Aras, importante figura da cultura sertaneja, José Raimundo Aras foi professor estadual em Feira, onde em sociedade com seu irmão, o ex-deputado e advogado Roque Aras, mantinha a Gráfica Subaé, na Av. Presidente Dutra.

Funcionário público do Estado da Bahia, trabalhou no núcleo de recursos humanos da Embasa, empresa de água e saneamento, onde foi diretor, e também foi auditor fiscal do Estado da Bahia quando foi assassinado em 9 de outubro de 1996, num crime de mando, no chamado Escândalo da Máfia do Açúcar.
Fundou um Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (INCISA), foi professor da FACS (hoje UNIFACS – Universidade Salvador), participou ativamente da fundação da associação dos técnicos de nível universitário da EMBASA (ATUE), prestou assessoria durante os primórdios da fundação da FABASA em 1985 bem como do plano de cargos e salários da empresa. Membro da direção estadual da POLOP na Bahia, foi também dirigente da União dos Estudantes da Bahia junto com outros companheiros.

O nome dos filhos reflete seu pensamento político e ideológico. Pai do procurador regional da República, Vladimir Barros Aras, ex-professor da UEFS e agora da UFBA, que fez grande parte de sua carreira no MP em Feira de Santana; da Biomédica e Preventóloga formada na Alemanha, Larissa Maria Barros Aras e do enfermeiro Leonardo Barros Aras, ambos nascidos em Feira de Santana, cidade onde serviu por muitos anos.

Sua esposa, Maria Angélica Barros Aras, dirigiu a Biblioteca Municipal. Sua irmã Adalgisa Nadir Aras de Macedo Odontóloga e historiadora, residiu na cidade com sua família por muitos anos. Era tio do PGR Augusto Aras.

Seus amigos e colegas mais próximos recordam-se bem como ele se preocupava com os menos favorecidos chegando até a escrever poemas sobre o tema, um deles sobre o trabalhador do campo. Uma alma de poeta, elogiado pelos amigos e colegas por sua destacada inteligência, dedicação, humildade, integridade, sinceridade e profissionalismo, continuará sempre sendo lembrado por todos com muito respeito, reconhecimento e grande nostalgia.

No processo, há até aqui dois réus condenados (um mandante e o executor)e outros dois réus absolvidos (dois mandantes).

Um dos mandantes absolvidos vai ao segundo júri somente agora, quase 27 anos depois do crime.

O quarto réu (também mandante) ainda será julgado depois. Todos os mandantes eram atacadistas de açúcar em Juazeiro/BA e sonegavam ICMS nas vendas interestaduais. Meu pai era auditor fiscal e desvendou o esquema, conhecido como Máfia do Açúcar.

Ofereceram propina a ele; mas ele, prontamente rejeitou a promessa. Foi ameaçado. Passou a andar com segurança, um PM. A solução que deram foi contratar um matador de aluguel, ao preço de um carro popular da época. Este criminoso já respondia por um homicídio (denunciado pelo MPBA) e estava em liberdade. Meu pai foi vítima de sonegadores e se corruptores e da leniência da justiça com um homicida “presumivelmente inocente”. Há 27 anos os filhos somos vítimas da justiça criminal do Brasil que não acaba com essa fileira de recursos intermináveis, que estende a dor das vítimas à espera de uma resposta. Outras vítimas no Brasil sequer sabem onde estão os corpos de seus familiares mortos ou quem os matou. Nós sabemos e queremos justiça.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador