Salvem a Americanas da falência e dos proprietários, por Luis Nassif

Um caminho poderia ser a venda da Americanas por um valor simbólico a uma concorrente

As leis e regulamentos precisam obedecer a um mínimo de racionalidade, especialmente na questão da recuperação de empresas.

Empresas não podem ser analisadas do ângulo exclusivo dos proprietários. Empresas são ativos sociais de um país, pelos empregos que gera, pela organização dos fatores permitindo a produção, a cadeia de fornecedores, a estrutura comercial etc.

O fim de uma empresa significa muito, em perda de empregos, em prejuízo dos fornecedores e em perda de valor. Uma empresa fechada vale apenas pelos seus imóveis e estoques. É um valor ínfimo perto de uma empresa em operação.

Um exemplo clássico é o da CAIO Carrocerias. Ela entrou em processo de falência. Tinha um enorme passivo trabalhista, Fechada, além da perda de empregos, seus galpões e imóveis seriam insuficientes até para cobrir os passivos trabalhistas.

Um juiz corajoso decidiu, então, por uma intervenção. Colocou a empresa em mãos de um interventor sério. Depois de algum tempo, a empresa tinha conseguido cobrir todo o passivo trabalhista, preservar empregos e fornecedores.

É por aí que deve-se analisar as Americanas.

Como recuperar as Americanas

O primeiro passo é separar controladores da empresa. Aos controladores, o peso da lei, as ações cíveis e criminais e a expropriação das ações – que, hoje em dia, estão perto de valer nada. Já em relação à empresa, um esforço cívico para preservá-la.

Um caminho poderia ser uma intervenção que recuperasse a empresa, os empregos e os fornecedores. E que permitisse que, a preservação do valor da empresa, ajudasse a ressarcir algum recurso público que vier a ser aportado.

Trabalho semelhante foi feito com a Cemar – Centrais Elétricas do Maranhão. Quebrada, foi recuperada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Recuperada, foi entregue quase de graça para os chamados piranhas financeiros – a Equatorial, grupo que saiu das entranhas do Garantia, de Jorge Paulo Lemann.

Portanto, não basta apenas a recuperação da empresa, mas a definição de uma finalidade legítima para ela.

Um caminho poderia ser a venda das Americanas, por um valor simbólico, a uma concorrente. E, depois de recuperada, definir o ganho de valor e as formas de repartição. Teria o inconveniente de aumentar a concentração no varejo.

Um caminho inovador seria a co-gestão, a entrega da empresa a um grupo de gestão, com o controle compartilhado por uma comissão de funcionários, pensando em um modelo de gestão que preservasse o dinamismo da empresa.

Quem poderia conduzir esse movimento? Um juiz com boas ideias e iniciativas? O Poder Executivo? O BNDES, ajudando a definir um modelo de governança?

Seja como for, é um bom desafio para saber se o país tem condições de sair da fase dos piranhas financeiros e ingressar na era do capitalismo social.

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Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Administradores perfumados que fraudam, burlam, desviam, desempregam, destroem! Impunemente? Receita Federal não viu? Bancos não viram? Auditorias não viram? Contabilidade não viu?Eis a piada obscena, fedida do neoliberalismo!

  2. Talvez converter a dívida em ações , os novos compradores montam um grupo de governança (que funcione), em paralelo se investigar, julgar e punir se for o caso os responsáveis.
    Rever a responsabilidades das “oditorias” se fosse só para assinar não se precisa delas.
    Não sei se estas empresas podem prestar outros serviços como cunsultória a quem auditam , se for seria um ?¤+@ conflito de interesses.

  3. Após o escandalo dos vagabundos do calarinho branco explodir, fiz um teste.
    Comprei um livro das Lojas Americanas. O preço estava mais barato do que no concorrente (Amazon), com uma vantagem adicional: zero de frete (na Amazon o frete acrescentaria 16 reais ao preço do livro).
    Imaginei que não receberia o produto. Todavia, a Lojas Americanas frustou minha expectativa. O livro foi entregue no prazo e não perdi meu dinheiro.
    Você tem razão Nassif. A loja merece ser salva, inclusive e principalmente dos vigaristas que a comandam e que a codenaram á falência.

  4. “Capitalismo Social” é primo-irmão de outra falácia do mundo (e da mentalidade) social-democrata eurocêntrica, o “Capitalismo Ético”, e, portanto, mais uma imposição universalizante de fundo moral e iluminista dos nossos verdadeiros mitos e pais fundadores: os europeus (e seus sucessores imediatos, os norte-americanos). Pra que esse prolegômeno todo? Por um só motivo: a “democracia” social e capitalista em que vivemos é fruto de um vício de origem: a violência colonialista e sua sucessora histórica, a violência imperialista. Ambas baseadas em um fator único: a exploração, de recursos naturais e humanos. E nada fundado em vício de origem pode frutificar plenamente, ou, pelo menos, encaminhar-se no sentido de evoluir diferentemente de sua origem. Quando muito, no lado que explora, nunca no lado explorado. Em outras palavras, a exploração não se transforma nem se altera, apenas perpetua-se.
    É por isso que, em minha visão, Capitalismo Social ou Capitalismo Ético podem, de certa forma, frutificar no hemisfério norte, e atingir parte mais ampla das populações locais: houve, por lá, acúmulo de riqueza, tornando possível que o gotejamento dessa riqueza aconteça, ainda que não seja, de fato, em uma escala considerável. Mas aqui, no terceiro mundo, com suas democracias de araque (inclusive a do Grande Irmão do Norte, que é rica, mas é de araque), não houve acúmulo de riqueza. Portanto, a única coisa que pode ser distribuída – gotejada – são as sobras dos recursos naturais e humanos que aqui, porventura, tenham existido.
    Os europeus, e os americanos (o monstro super-europeu, segundo Sartre), já prósperos às custas da exploração e do empobrecimento dos não-europeus, criaram essas miragens, como o Capitalismo Social e o Capitalismo Ético, e, tal como foi feito com o Iluminismo, exportaram essas ideias, que davam contornos mais suaves (morais, dir-se-ia) à exploração colonial selvagem que puseram em prática no mundo a partir dos Grandes Descobrimentos, no final do século XV, numa orgia que terminou (sic) com a auto-destruição, ou autofagia, no pós-1945. Na verdade, continuou sob outras formas, e permanece até hoje. Alguns desses explorados estão, hoje, se levantando e encarando seus algozes; outros, permanecem deitados, sobre algo que julgam ser um berço esplêndido.
    As Americanas aguardam seu destino – já experimentado pela Mesbla, dentre outros cujos nomes agora me escapam à memória. Ao menos, essas instituições tem um destino, triste como seja, na História e nos registros comerciais. Os funcionários, pequenos fornecedores, e demais insignificâncias dessa laia, apenas aguardam o momento de serem precipítados no memory hole.
    E, novamente, uma vez que mesmo observadores qualificados como o Nassif acreditam, não em mamadeira de piroca, mas em Capitalismo Social ou Capitalismo Ético, longa vida aos lemmans, sicupiras, e demais gênios do Capitalismo, já que é inútil desejar o contrário.

  5. Nassif, acredito que um bom tema que ainda não foi discutido nesse caso Americana seja a questão da taxação de dividendos. A inexistência de tal taxação Brasil, a meu ver, é um convite a este tipo de fraude. Os acionistas majoritários simplesmente transformaram o preço justo da ação em dividendos, enquanto ludribriaram os acionistas minoritários, que precificaram os papéis de maneira errônea mantendo os precos artificialmente elevados, devido à assimetria de informação.

    Fossem os dividendos taxados,como em todo o resto do mundo civilizado, teria sido possível esse golpe? Talvez sim, mas não com a mesma facilidade.

  6. Em tempo: entendo que taxação de dividendos é questão regulatoria!

    O país ao não taxar os dividendos permitiu várias outros controladores de descapitalizar a própria empresa por fins escusos. A fraude das americanas só foi mais escancarada.

    Taxar dividendos é incentivar que os lucros sejam reinvestidos na própria empresa.no exteriores cogita-se até taxar as operações de recompra de ações.

  7. Poisé “seo” Nassif, quebrado esse dogma estupido e canalha que a iniciativa privada é a resposta pra tudo, chegou a hora de partir pra cima de outra estupidez sem fim que é o tal rentismo abutre através do bc sequestrado, Lula não pode engolir essa patifaria de juros altos a perder de vista, são os pobres e trabalhadores sustentando uma escumalha que quer fantasma trabalhar, basta…e ninguém pede cana pra esse trio? Também, o homem do baú arrebentou um banco em alguns bilhões e tá tranquilão não é?

  8. o melhor caminho seria verificar quanto de dividendos fraudados a trinca de larápios surrupiaram das Americanas bem quanto ganharam na vendas de ações infladas e fazerem os larápios devolverem com juros, correção e também prisão.

  9. Aparentemente a Americanas é insalvável. A operação somente era possível devido a este tipo de operação fraudulenta.A concorrência hoje é muito grande entre os loja somente online e,pior de tudo,os ambulantes eletrônicos vendendo todo tipo de produtos falsificados e sem nota.

  10. Será que a Magalu cresce os olhos? Dominaria totalmente o mercado. Precisa ver se ela não andou especulando com o seu capital do mesmo modo que as americanas.

  11. Os administradores, diretores e donos das Americanas com certeza tem boas relações com seus homólogos de outras firmas, pelo menos no que diz respeito a poder. Nesse nível não há concorrência prática, real, há acordos tácitos e explícitos. Os milionários sabem que se não se unirem enquanto classe, não tem força. Pregam que quem não é da mesma classe, do mesmo nível que eles, deve acreditar num individualismo que eles próprios não praticam entre si. Questão de consciência de classe, unicamente. Considerando que as pessoas que trouxeram à luz as falcatruas das Americanas foram pessoas que tem (e precisam ter) relação com outros donos, diretores e acionistas de outras empresas – e não órgãos estatais – não é difícil que já esteja, antes até da revelação das fraudes, tudo mais ou menos acertado. Lembra como as firmas privadas de avaliação (S&P, Moody’s etc.) avaliaram o Lehman Brothers até o último instante antes do fechamento desse banco? Alguém viu um dos irmãos Lehman de chapéu na mão nas sarjeta de alguma rua? E a diretoria desse banco, estão como esses diretores? Consciência de classe, quem tem prospera.

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