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O Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (FINDE) congrega pesquisadores de universidades e de outras instituições de pesquisa e ensino. O Grupo de Estudos de Economia e Política (GEEP) do IESP/UERJ é formado por cientistas políticos e economistas.
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Convergência da funcionalidade financeira e do desenvolvimento sustentável, por Fernanda Feil

Para que o sistema financeiro apoie efetivamente a transição verde sustentável, algumas mudanças são necessárias.

Blog: Democracia e Economia  – Desenvolvimento, Finanças e Política

Convergência da funcionalidade financeira e do desenvolvimento sustentável

por Fernanda Feil

Enquanto o processo de desenvolvimento é fundamentalmente caracterizado por uma expansão de investimentos e mudanças estruturais, as implicações dessas mudanças estendem-se para além do cenário econômico. Investimentos que modificam drasticamente a infraestrutura e logística, a estrutura produtiva e inovações diversas, transcendem o contexto econômico e permeiam a esfera social. As incertezas inevitáveis nesse ambiente são dominantes, especialmente quando se consideram os investimentos que necessitam de crédito, por definição, de alto risco e longo prazo.

O papel das instituições financeiras públicas torna-se ainda mais significativo nesse contexto de promoção do desenvolvimento. Essas instituições devem funcionar como braços financeiros do Estado, focados na promoção do desenvolvimento econômico e social sustentável. O Brasil tem um histórico de forte atuação dos bancos públicos, sendo que quase metade do crédito concedido provem dessas instituições.

A relevância dos bancos públicos no desenvolvimento

Os bancos públicos desempenharam e continuam a desempenhar um papel crucial na formação de estruturas econômicas bem-sucedidas, diversificadas e competitivas mundialmente, apesar dos processos de privatização, liberalização e financeirização que ocorreram a partir dos anos 1980. Eles são vitais para a promoção do desenvolvimento, otimização do financiamento de longo prazo, financiamento de projetos com externalidades positivas, promoção do desenvolvimento econômico e regional, financiamento de áreas negligenciadas pelo setor privado, como a inovação, e até para promover ações anticíclicas.

As experiências históricas e a dinâmica contemporânea da economia global demonstram que a eficácia dos sistemas financeiros na promoção do desenvolvimento não pode ser assegurada sem a participação ativa do Estado na criação de condições favoráveis ao desenvolvimento. Ainda que o formato institucional dos vários sistemas financeiros nacionais difira de acordo com um conjunto de fatores, como o grau de desenvolvimento econômico, a evolução do sistema financeiro nacional, a configuração legal e a tradição da política macroeconômica do país, a presença ativa do Estado na coordenação, regulação ou mesmo investimento direto, do processo é essencial.

Transição verde sustentável: o papel crucial do sistema financeiro

A emergente crise climática eleva o sistema financeiro ao centro do debate sobre o desenvolvimento sustentável, dada a magnitude dos recursos que precisam ser mobilizados. A transição verde sustentável demanda uma reestruturação substancial dos investimentos em diversos setores econômicos, desde energia e transporte até agricultura e indústria.

O volume capital necessário para financiar essa transição é colossal. Estima-se que serão necessários trilhões de dólares ao longo das próximas décadas para substituir as infraestruturas obsoletas por tecnologias mais limpas, eficientes e resilientes. Nesse sentido, o sistema financeiro, com sua capacidade de direcionar grandes volumes de capital de investidores para projetos, torna-se fundamental.

Em segundo lugar, o sistema financeiro é um facilitador-chave da inovação. Novas tecnologias verdes, como energias renováveis, baterias eficientes e tecnologias de captura de carbono, são vitais para a transição verde. Contudo, essas tecnologias requerem grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), bem como capital de risco para sua transição do laboratório ao mercado. Os intermediários financeiros desempenham um papel crucial no fornecimento desse capital.

Mudanças necessárias no sistema financeiro para uma transição verde sustentável efetiva

Para que o sistema financeiro apoie efetivamente a transição verde sustentável, algumas mudanças são necessárias. Uma delas é a incorporação dos riscos climáticos na tomada de decisões financeiras, implicando que os bancos, fundos de pensão e outros investidores precisam avaliar o impacto das mudanças climáticas e da transição verde em seus portfólios de investimento. Eles também precisam divulgar essas informações aos seus stakeholders, para que estes possam tomar decisões informadas.

Outra mudança necessária é o alinhamento dos incentivos financeiros com os objetivos de sustentabilidade. Isso pode envolver a criação de novos instrumentos financeiros, como títulos verdes e títulos de transição, que canalizam o investimento para projetos verdes. Também pode envolver a reforma dos sistemas de incentivos existentes para garantir que não estejam incentivando atividades prejudiciais ao clima.

Por fim, é crucial que o sistema financeiro não apenas reaja, mas também conduza a transição verde. Isto significa que as instituições financeiras devem desempenhar um papel ativo na promoção de tecnologias e práticas verdes, por meio de suas decisões de empréstimo e investimento.

Em suma, o sistema financeiro é um pilar fundamental para a transição verde e sustentável. Ele tem o poder de canalizar grandes somas de capital para onde são mais necessárias, facilitar a inovação e gerir os riscos. No entanto, para desempenhar este papel efetivamente, o sistema financeiro precisa se adaptar e se alinhar com os objetivos de uma economia verde. Com as mudanças certas, o sistema financeiro pode ser um poderoso motor de progresso em direção a um futuro mais sustentável.

Portanto, é evidente a necessidade de uma mudança mais eminente do sistema financeiro. Assim, a retomada e o fortalecimento dos bancos públicos, bem como a adoção de políticas públicas alinhadas com uma ação bem-sucedida dessas instituições financeiras públicas, são essenciais. Isso, combinado com uma regulação financeira que reflita as novas necessidades e a nova realidade imposta pela crise climática.

Fernanda Feil – Professora credenciada no Programa de Pós Graduação em economia da UFF, pesquisadora do Finde/UFF e do GEEP/Iesp

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O Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (FINDE) congrega pesquisadores de universidades e de outras instituições de pesquisa e ensino, interessados em discutir questões acadêmicas relacionadas ao avanço do processo de financeirização e seus impactos sobre o desenvolvimento socioeconômico das economias modernas. Twitter: @Finde_UFF

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