Abrale aponta o festival de erros do material didático de Tarcísio

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos (Abrale) analisa os slides de aulas para as escolas estaduais

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na cerimônia de transmissão de posse com o secretário da Educação, Renato Feder. Foto: Governo do Estado de São Paulo

O material de ensino usado pela rede pública estadual em São Paulo é “raso, superficial, enfadonho e prejudicial à formação da cidadania”, segundo avaliação realizada e divulgada pela Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos (Abrale).

Em julho, o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e seu secretário de Educação, Renato Feder, decidiu não aderir aos livros didáticos oferecidos pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático, afirmando que as coleções didáticas seriam substituídas por materiais digitais “elaborados e distribuídos pela própria secretaria”.

E como aponta a Abrale, que analisou slides de materiais didáticos preparados pelo governo paulista, nem mesmo os professores podem efetuar algum tipo de edição no texto usado – contrariando manifestação da própria Secretaria da Educação – uma vez que os conteúdos didáticos foram entregues em formato PDF não editável.

A posição do governo paulista pode ter gerado uma série de debates na mídia, mas a associação alerta que a discussão acabou por desviar o foco do ponto mais importante: a imposição por parte do governo de um material único aos docentes e estudantes paulistas.

Material engessado

A análise da Abrale englobou os materiais para as disciplinas de Língua Portuguesa, Arte, Matemática, Geografia e Ciências, elaborada a partir de uma força tarefa abarcando centenas de slides dirigidos às aulas de segundo bimestre do 6º ano, agrupados em aulas numeradas sequencialmente.

“Para melhor situar o leitor, antes de apresentar as análises específicas de componentes curriculares, apontamos os aspectos gerais da didática dos slides, os quais se repetem em cada área do conhecimento e causam a mesma impressão: o material é enfadonho, maçante, feitos a partir de um mesmo modelo ou template”, diz a Abrale.

“Todos os slides são parecidos, as sequências são idênticas e os problemas encontrados bastante semelhantes. É lamentável imaginar esse/essa estudante subjugado/a ao enfado e enfaro de materiais expositivos repetitivos (e repletos de erros, como veremos) em substituição a livros”.

Festival de erros

Cada aula é formada por um bloco de slides que se mostram insuficientes para uma aula de 45 minutos, sendo que cada bloco é composto por uma média de 20 slides.

“(…) no entanto, há sempre um slide de abertura com o título daquela aula; o próximo traz uma lista de conteúdos e objetivos; os seguintes apresentam os conteúdos e uma ou duas propostas de atividades de marcar X, com outros para resposta das questões anteriores”, detalha a Abrale.

O material também conta com um resumo com tópicos bem enxutos e, para o final da aula, uma listagem de referências que consomem de 5 a 8 slides – o que restringe o conteúdo efetivo para cerca de 8 a 12 slides.

E esse material é recheado de falhas: segundo a Abrale, “o material de Ciências traz um acúmulo de erros terminológicos, conceituais e de revisão textual. O foco do ensino está apenas na memorização de conceitos e esquemas, de modo que o resultado será devastador porque estudantes aprenderão erros”.

Além disso, a visão de ciência do governo paulista não favorece a formação do estudante para que possa entender a ciência como fazer humano em constante transformação, e também fica clara a demarcação em tom de comando militar dos tempos para estudo, discussão e análise.

“Fica-se com a impressão de que o objetivo é que os estudantes obedeçam às ordens emanadas das cabeças pensantes sem discussão e sem que eles compreendam a importância (se é que há) daqueles temas escolhidos para serem “conversados” durante alguns poucos minutos”, diz a entidade.

Textos curtos, formação comprometida

A associação ressalta que “apresentar conteúdos que, de tão sucintos, remetem a telegramas, traz um imenso prejuízo para os estudantes e para os professores que nem sempre têm situação financeira para adquirir os fundamentais livros de referência que são usados quando desejamos desenvolver um tema com sustentação teórica”.

“Entendemos que o material é raso, superficial, enfadonho e prejudicial à formação da cidadania, por não fornecer textos, contextos e argumentos extraídos do mundo real (…) Foi surpreendente a profusão de erros conceituais encontrados”, diz a Abrale, lembrando que o impacto na formação intelectual de jovens e adolescentes corre perigo”.

“Os prejuízos à jovem população paulista são incalculáveis, principalmente, se as provas repetirem os mesmos erros do material digital, porque baseadas nele ou elaboradas pelo mesmo corpo técnico que o produziu e nos parece carente de formação adequada”.

“A amostra traz material descartável ou dificilmente recuperável. É inconcebível a permanência desse material em sala de aula, deformando a visão de mundo e a capacidade de continuar aprendendo de nossos estudantes, submetendo professores a corrigir textos incompreensíveis ou mesmo bizarros”, finaliza a associação.

Leia abaixo a íntegra da análise elaborada pela Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos

Analise-critica-do-material-didatico-do-estado-de-Sao-Paulo

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Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. A visão bolsonarista da educação: um simulacro, um pastiche de lugares comuns. Daqui a pouco talvez até decidam distribuir livros, mas daqueles ocos, usados para enfeite de prateleira e para esconder coisas.

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